O núcleo familiar é sagrado. É a criação divina que gera todas as demais instituições. Em Gênesis, Deus não cria o estado, o banco, a escola ou a assembleia. Antes, ele cria a família que, agraciada com dons de criatividade e sabedoria, tem capacidade de criar instituições para atender suas necessidades e avançar seus propósitos.
A família, por assim dizer, é o produto original. As demais instituições são apenas cópias que se inspiram na união e propósito familiar.
Logo ali em Gênesis, a família já recebe suas primeiras responsabilidades. Ela deve adorar, trabalhar, e desfrutar. Ela adora ao seu Criador ao obedecer sua palavra. Ela trabalha ao gerenciar a criação. E os frutos nutridos naquele Jardim são para seu deleite.
A criação logo espelha o Criador, e o homem cria ferramentas. De modo geral, todas as criações humanas são ferramentas para facilitar, ou melhorar, sua adoração, trabalho e deleite – seja para fins ímpios ou seja em obediência ao Criador.
São criados hospitais, associações, teatros, bancos e museus. E então a essas instituições são delegadas certas responsabilidades da família.
É por isso que existem escolas. Na sua definição mais básica, escolas são ferramentas de ensino. E, no decorrer da história, elas têm tido um papel tão importante quanto impactante.
Mas não se pode esquecer que a escola é uma ferramenta ao serviço do núcleo familiar. Não se pode elevar a ferramenta acima do próprio homem. A escola existe para servir a família, e não a família para alimentar a escola. Terrível coisa é quando a família se torna escrava da ferramenta, seja ela política, financeira ou educativa.
É neste contexto que defendo o direito das famílias praticarem a educação domiciliar, ou homeschooling. Entendo, perante a narrativa bíblica, que a família retêm o direito de escolher, modificar, ou até trocar as ferramentas que usa ao ensinar os filhos a adorar, trabalhar e deleitar.
Ninguém nega que cada método de ensino tem seus pontos fracos e fortes, assim como as necessidades e personalidades dos nossos filhos são únicas e especiais. Todos parecem concordar que é necessário flexibilidade para adequar o formato do ensino de acordo com as necessidades do aluno.
O que parece estar em pauta, digamos, no ‘tribunal da opinião pública’, é se cabe à família escolher o formato que mais condiz com suas convicções. Se cabe, de fato, à família a liberdade de escolher o formato do ensino. Se cabe, de fato, à família delegar ou guardar para si certos deveres.
Em uma sociedade como a nossa, que supõe que o Estado é a mãe bondosa que nutre todas as demais instituições, não é tarefa fácil sugerir que é a família – e não um partido politico qualquer – que prestará contas a Deus pelo ensino dos filhos.
O dever é dos pais. Sempre foi, e sempre será. Verdade essa que é refletida na nossa Constituição Federal ao afirmar que “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores…” (Art. 229). Um jovem cresceu sem desenvolver sua capacidade de ler ou escrever? Em última analise, a maior culpa não recai sobre o professor que não conduziu sua sala de aula devidamente. E nem ainda sobre o diretor da escola, ou o responsável pelo departamento de educação daquele município. Antes, a culpa é dos pais, que não acompanharam a aprendizagem e desenvolvimento dos filhos, mas insistiram em o manter em um contexto que gerou mais trauma do que crescimento.
Negar aos pais sua liberdade de escolher o formato educacional é negá-los a liberdade de serem pais. É restringir seu acesso à ferramentas que foram desenvolvidas para servi-los. É roubar da família aquilo que não pertence a qualquer outra instituição. É acreditar que o sistema escolar do século XXI é único meio saudável e seguro para a transferência de conhecimento. É insistir que o formato atual atende a todas as necessidades e que, portanto, nunca haverá a necessidade de evoluir, inovar ou mudar o modelo imposto.
Defendo o direito das famílias optarem, ou não, pela educação domiciliar porque entendo que a família foi criada para se investir na criação dos filhos. Cabe ao Estado proteger esse direito. Cabe às escolas oferecer recursos para usufruir desse direito. Mas cabe exclusivamente aos pais o direito de criar seus filhos de acordo com suas convicções.
Defendo o direito à educação domiciliar — não porque ela seria, supostamente, a resposta perfeita para todas as crises que a família brasileira enfrenta. Antes, defendo o direito à educação domiciliar porque a criação de filhos é preciosa demais, delicada demais, impactante demais para ser confiada a qualquer instituição que não seja aquela criada por Deus: a família.